Peixes sentem dor e o sofrimento pode durar até 10 minutos após serem apanhados. A revelação vem de um estudo conduzido por cientistas da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, que analisou o comportamento de trutas arco-íris expostas a diferentes métodos de captura. Os resultados colocam em xeque práticas comuns da indústria pesqueira e do consumo humano que, até hoje, ignoram por completo a possibilidade de dor em animais aquáticos.
Peixes sentem dor: evidência científica e mudança de paradigma
Durante os experimentos, os pesquisadores submeteram os peixes a simulações de captura e exposição ao ar. As reações físicas e comportamentais observadas indicam não apenas sofrimento, mas dor aguda e prolongada. Em média, o desconforto visível durou entre 7 e 10 minutos — tempo significativo para um animal que, até recentemente, muitos acreditavam não ter sistema nervoso capaz de processar dor.
Segundo os autores, o objetivo do estudo foi justamente refutar o argumento usado pela indústria pesqueira de que os peixes “não sentem dor como os mamíferos”. As evidências demonstram o contrário: os sinais bioquímicos, como liberação de cortisol, alterações motoras e reações de fuga, confirmam um estado de estresse intenso. A frase “peixes sentem dor” deixa de ser apenas uma suposição ética para se tornar um dado científico.
Consequências para pesca comercial e esportiva
O estudo reacende o debate sobre métodos humanitários na pesca. Países como a Noruega e a Alemanha já possuem legislações que exigem o uso de técnicas que minimizem o sofrimento animal, como o atordoamento elétrico antes do abate. No entanto, essas práticas ainda são exceção no cenário global.
A pesca esportiva, por exemplo, costuma promover a captura e soltura como alternativa “ética”. No entanto, os pesquisadores alertam que esse processo pode causar dor semelhante à de abate, mesmo quando o peixe é devolvido vivo à água. Em outras palavras, a dor existe — independentemente do destino final do animal.
Implicações éticas e consumo consciente
A confirmação de que peixes sentem dor levanta questões éticas sobre o consumo indiscriminado de frutos do mar. Muitas pessoas evitam carne vermelha por compaixão aos mamíferos, mas não aplicam o mesmo critério aos animais aquáticos. Essa separação moral começa a perder sentido diante das evidências científicas mais recentes.
“Precisamos repensar a maneira como tratamos peixes na cadeia alimentar”, declarou um dos cientistas à imprensa britânica. “A ciência agora mostra que eles sentem dor, sofrem, e têm reações semelhantes às dos animais que já protegemos por lei.”
O estudo completo pode ser lido no site da Earth.com, com detalhes sobre os experimentos e entrevistas com os pesquisadores.
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Peixes sentem dor: o que muda agora?
A publicação do estudo acontece em meio a um movimento crescente de conscientização sobre direitos animais. Grupos ativistas, chefs de cozinha e até redes de supermercado começam a reavaliar práticas de obtenção de produtos do mar. O reconhecimento de que peixes sentem dor pode se tornar um divisor de águas na regulamentação da pesca global.
Algumas propostas já estão sendo debatidas, como a obrigatoriedade do uso de métodos de insensibilização em larga escala. Outra frente de discussão envolve a proibição da pesca esportiva em determinados contextos — especialmente quando não há propósito alimentar claro. A legislação animal, que por décadas se limitou a animais de estimação e mamíferos, pode estar à beira de uma grande expansão.
Conclusão
O estudo que comprova que peixes sentem dor desafia preconceitos antigos e exige uma nova postura da sociedade diante da vida marinha. Já não é mais aceitável ignorar o sofrimento de milhões de animais sob o pretexto da tradição ou conveniência. Com a ciência oferecendo as provas, o próximo passo é moral: adaptar nossas práticas ao respeito que esses seres merecem. Pescar, agora, implica consciência.